Começa a pesar esta vida de nómada que sabia desde o início que seria assim durante uns anos.
Aproxima-se a passos largos a hora de, mais uma vez, arrumar as peças que deram forma à minha vida durante um ano... Empacotar o que vale a pena guardar, colar etiquetas em cada caixa para não esquecer onde coloquei.
Se bem que não ficarão fechadas por muito tempo... em menos de uns meses estou a desembrulhar tudo novamente... e a colocar, de novo, as fotografias num local onde as possa ver quando me deito.
Mas, mais desgastante que o cansaço físico que esta tarefa causa são os sentimentos que com ela vêm e que já eu vou começando a sentir... o que deixo para trás, os momentos divertidos, as gargalhadas, as horas de angústia quando os papéis não saem de cima da secretária, quando não se sabe para que lado da ponte deixamos cair...
Já antecipo as despedidas na minha cabeça... das ruas por onde passo a caminho do trabalho, das montras que revejo a cada hora do almoço, dos locais onde vou todos os dias, do café em pé junto à máquina, dos corredores...
Das pessoas...
Dos sorrisos e do bom dia bem disposto que oiço quando chego, do "bom descanso" que me acompanha à saída de mais um dia de trabalho...
Do cheiro da minha casa que me espera a cada entardecer...
De cada pormenor que, por mais insignificante que possa parecer, faz (fez) parte desta minha passagem por aqui...
