De novo de partida

Faltam duas semanas para ir poisar noutro quintal.

Há um ano a viver na cidade medieval mais famosa deste nosso país, começo a sentir uma certa nostalgia e ainda nem comecei a empacotar a tralha.

Olho em volta deste espaço que em breve deixará de ser a minha casa...

Muitas lembranças, boas, más, assim assim... lágrimas, gargalhadas, vazio, silêncio, mau humor, desespero, indiferença, alegria.

Sentimentos e emoções aqui partilhadas, amizades que se fortaleceram, afinidades que se evidenciaram e acabaram por se desvanecer, e tudo num ano.

Agora parece que foi pouco tempo, mas a verdade é que foi o tempo mais importante da minha vida adulta até então.

Aprendi a estar sozinha, a ter que desenrascar sozinha, a não ter com quem falar de como correu o dia ao jantar, com quem comentar o que vai acontecendo no país e no mundo, com quem partilhar um copo de vinho ou o cigarro na varanda.

Aprendi a ir ao cinema sem a companhia de alguém, aprendi que a comida não nasce no frigorífico nem mas prateleiras dos armários, que a pasta dos dentes e o gel de duche também.

Aprendi que quem importa nunca está ausente, apenas fisicamente distante.

Aprendi a colocar em palavras o que vai na minha cabeça, no meu coração e na minha alma quando a forma mais rápida de comunicar é a Internet.

Aprendi que a solidão é apenas aquela que inunda todo o meu ser e não o espaço que me circunda.

Aprendi que há momentos na vida em que a solidão não é opção nem imposição, é uma necessidade.

E já não irei embora como cheguei... deixo cá ficar tantas ideias que abandonei, tantas certezas que vi derrubadas, tantos preconceitos que não sabia explicar.

E levo uma alma nova...